Resumo e impressões: terceiro dia 

Oi galera, vou contar então sobre o terceiro dia desse estudo, em que meu querido grupo conheceu o centro de São Paulo. Começamos saindo do hotel perto das 8h30, e meditamos na praça logo em frente ao hotel, nos preparando para mais um longo dia. Então seguimos para uma ocupação na rua Marconi, na República, onde conversamos com um dos líderes do movimento social sobre questões legais envolvendo a situação de ocupação, inclusive ele estava organizando uma reunião para mais tarde, no mesmo dia. De lá, andamos até o edifício Copan, uma visita que considerei mal aproveitada, pois tudo que fizemos foi subir até a cobertura, tiramos algumas fotos e fomos embora. Creio que, por ser um prédio famoso, havia mais do que isso para nos mostrar. Assim, seguimos para o Red Bull Station que, por mais que pareça ser um lugar incrível para eventos e apresente uma ótima proposta para inclusão de artistas de classes menos favoráveis (você pode checar os programas que eles oferecem aqui: http://www.redbullstation.com.br/ ), foi, também, uma visita bem esquecível. Um pouco desanimados, seguimos para um gratificante almoço no Palacete Tereza, que tem um cardápio impressionante, de verdade, muito recomendável.

Ainda sem ânimos (e um pouco sem paciência), porém, fomos conhecer o Preto Café, no Largo do Arouche. Eis o momento mais marcante do dia todo. O Preto Café funciona como um estabelecimento de crowdfunding, ou seja, não possui fins lucrativos. O que eles propõem é que você olhe o quanto as pessoas pagam em outros lugares, o quanto elas pagam ali e o quanto falta para fechar o mês, e doe (sim, doe, não pague) o quanto você acredita que a experiência ali valeu, deixando seu dinheiro numa tigela de aquário, sem nenhuma tradicionalidade de caixa registradora, notinha fiscal, ou uma expressão de “quero ir para casa logo” de quem fecha sua conta. Com um ótimo cardápio, incluindo o melhor bolo vegano de banana que eu já comi, o lugar tem uma história muito legal dos amigos que o fundaram e é realmente inspirador ver algo que, pelo menos eu, penso quase todo dia que gostaria de fazer dando certo. É um ótimo lugar para visitar numa tarde de chuva com os amigos. Fica aqui o site para quem tiver interesse: http://pretocafe.com.br/

Para fechar o dia tivemos um sarau divertidíssimo num lugar próximo ao hotel, que durou bastante mas podia ter continuado pela madrugada toda. Foi muito bom ver até gente que não canta ou toca fazer uma tentativa e deixou um gostinho de saudade já do segundo ano, realmente um momento que não esquecerei.

-Ticy

Eae povo, tudo certo?

Sou obrigada a dizer que, como um todo, o terceiro dia do Móbile na Metrópole não foi tão intenso como o segundo, mas devo a dizer que foi o dia em que ocorreu o evento que mais me tocou e que vai ser uma das últimas coisas q eu vou falar nesse post então aguardem (huehue).

Começamos o dia indo até a Federação Espírita do Estado de São Paulo (FEESP), lugar que admito já ter certa proximidade porque minha mãe e avó costumavam frequentá-lo, de modo que eu já tinha certa familiaridade. Independente disso, aquele foi um dos ambientes nos quais eu mais me senti bem vinda, tanto pela extrema hospitalidade dada pelos membros dessa instituição quanto pelo ambiente que me deu uma sensação de simplicidade e conforto. Bom, talvez isso não tenha sido tão independente da minha avó… Enfim, após uma breve explicação da religião assistimos a uma sessão e depois tivemos um passe, que é um ritual no qual algum membro da Federação “tira as más energias de você”. O interessante da FEESP é que ela tem uma grande iniciativa de assistência social, que abrange desde um apoio psiquiátrico para dependentes químicos, pessoas deprimidas e suicidas, até um asilo para quem não consegue pagar um privado, além de diversas doações de caridade.

Igreja dos enforcados
Local para acender velas aos mortos. – Capela dos Enforcados

Seguimos pela linha da fé e fomos para duas igrejas católicas na Liberdade que são intimamente ligadas e, devo confessar que eu já as conhecia e, apesar delas terem uma história muito pesada, não tiveram grande impacto em mim por isso. A primeira é a Capela de Santa Cruz das Almas dos Enforcados, que recebe seu nome por ser o local no qual se realizava, antigamente, a última reza/missa de quem iria ser enforcado na praça logo ao lado da igreja. A segunda é a Igreja da Nossa Senhora dos Aflitos, que, por sua vez, recebe seu nome por ser o local no qual as pessoas que iam ter sua última missa na Igreja dos Enforcados e seriam enforcadas em seguida esperavam por esses acontecimentos.

Ainda nessa linha, visitamos o Templo Busshinji, um templo budista, também na Liberdade. Lá fomos recebidos por um monge que nos ensinou um pouco do budismo e, o que para mim foi muito diferenciado foi que eu tive a impressão de que o budismo é muito mais um modo de vida do que uma crença, por exemplo, Buda não é visto como uma divindade. Também tivemos a oportunidade de meditar. Essa última parte foi uma experiência muito gostosa para mim, não sei se pelo relaxamento, pelo meu cansaço ou pelo incenso delicioso que o monge ficava queimando.

Devo admitir que o almoço desse dia não foi tão feliz quanto o do dia anterior. Saindo do centro budista fomos até um restaurante de comida macrobiótica (não posso ser injusta e reclamar disso, pois houve uma votação para decidir o lugar de comer e eu fui a favor do macrobiótico, mas posso falar minha opinião sincera do lugar e da comida). A comida é, para dizer o mínimo, insossa e uma das coisas mais sem graça que eu já pus na minha boca. Eu a caracterizaria como o que eu imagino ser uma versão gourmet de comida de prisão. Mas também, eu não sou nenhuma crítica de comida então essa é a opinião de uma leiga (na verdade de quase 40 leigos porque até onde eu sei ninguém dos grupos realmente gostou daquilo). Um breve parênteses de que ao chegar em casa e conversar com a minha família eu tive o imenso prazer de descobrir que meu pai conhece o restaurante porque uma amiga dele fez um curso e pegou piolho lá, mas tudo bem ninguém morreu.

Após este lindo almoço, fomos para um lugar chamado Feminaria. Ele é um espaço no qual, por uma mensalidade de baixo custo (mínimo 25 reais, máximo 45, depende do plano) qualquer mulher que estiver iniciando um negócio pode se filiar e ter acesso a casa (espaço que visitamos) para fazer reuniões, trabalhar e ser aconselhada ou aconselhar.

LGBT monas
Grafite no Centro de Acolhida trans

Com este pensamento feminista em mente nós fomos ao local que, em minha opinião, foi o mais incrível da viagem e não poderia ter sido melhor, o Centro de Acolhida para Mulheres Transexuais. Chegando lá tivemos a má sorte de encontrar um grupo de moradores de rua que, depois viemos a saber que estavam esperando a abertura de um abrigo temporário lá em frente, mas que ficaram gritando para os meninos de nosso grupo coisas preconceituosas como “não entra aí que é o inferno, se você entrar se não sai mais”. Deixando essa má sorte para trás, ao entrar no centro fomos recebidos por uma mulher absolutamente maravilhosa, a Tamires, a quem só posso dizer coisas boas e agradecer pela oportunidade que ela nos previu. Ela nos explicou a base de toda a situação de identidade de gênero, a diferença entre uma mulher transexual e uma travesti, a situação em que o centro se encontrava e a proposta dele e muitas outras

LGBT lhama
“Amor de bêbado não tem dono”

coisas. Após esta conversa tivemos a chance ainda mais marcante e sensacional de conversar com duas mulheres transexuais, a Anitta e a Camila. Elas nos contaram muito das dificuldades que elas enfrentam e também falaram de como elas superaram isso, o que foi uma experiência muito tocante para vários de nós, eu inclusive, pela realidade delas ser tão difícil, tão violenta, tão injusta e ao mesmo tempo tão esperançosa, tão pura. Posso dizer com certeza que essa visita foi muito definitiva para vida de vários de nós, e que ela verdadeiramente nos incentivou para olhar para uma realidade muito distante da nossa e querer fazer algo para melhorar essa situação infeliz que não nos afeta diretamente em nada mas afeta muitas pessoas e, como somos nós os privilegiados, somos nós que temos poder de mudar essas situações.

Voltamos completamente sensibilizados, mas esperançosos, para o hotel para passar novamente por uma correria para se aprontar para o sarau. Não tenho muito o que dizer desse evento, apenas que ele foi um belo momento de união de nossa série como um todo, e foi quase que um momento de fechamento não só deste Estudo do Meio, mas de todos, pois ano que vem temos vestibular em vez de viagem. Pensando que eu estudo nessa escola desde que me lembro por gente e que passei por inúmeros Estudos do Meio, isso foi algo bem importante para mim e fico feliz por ter passado por isso ao lado das amigas que eu amo e dos professores(as) que eu adoro.

No final, tudo é travessia e essa foi uma bela travessia que se encerrou.

-Flávia Vaz

Eai gente?

Bom, meu o  3º dia do Estudo do Meio começou às 7:00. Após o café no próprio hotel, meu grupo se reuniu e fizemos mais uma meditação, dessa vez em uma praça próxima. Nesse dia, ao contrário do que aconteceu nos anteriores, nós não podíamos utilizar os celulares para nos guiarmos. Então, para chegarmos no nosso destino, no bairro do Bixiga, também chamado por alguns de Bela Vista (a depender do ponto de vista), tivemos que seguir a orientação de algumas pessoas.

Diferentemente do que é ressaltado, o Bixiga não tem apenas uma influência italiana: também há um histórico de indígenas e de negros. Pude perceber a presença destes pela nossa primeira visita: fomos à Casa Mestre Ananias. Fomos recebidos por um homem chamado Minhoca, que teve como mestre o senhor Ananias (um dos mais importantes capoeiristas do Brasil). Na casa, se pratica a capoeira, um esporte que surgiu como uma força de resistência ao embranquecimento, representando uma força política. O berimbau é a marca da capoeira e, atualmente, é feito de arame de pneu, de cabaça (uma fruta) e de madeira flexível. Seu afinamento pode ser considerado democrático, pois todos os instrumentos devem estar afinados com base em um. Após essa pequena introdução, vimos uma roda de capoeira e fizemos uma deliciosa paçoca.  Para tanto, batemos em um pilão os ingredientes.

capoeira.png

(fotos retiradas de:http://guiaobraprima.com.br/noticias/25-lugares-maravilhosos-de-sao-paulo e de: http://mestreananias.blogspot.com.br/2010/12/ )

Em seguida, fomos à Igreja da Achiropita localizada na principal avenida do bairro: a 13 de maio. Este nome também remete à influência negra, visto que nessa data a Lei Áurea foi assinada pela princesa Isabel. Na igreja de estilo bizantino, com tradição italiana, conversamos com um padre que dá aulas de teologia e de filosofia em algumas universidades, como na PUC-Campinas. Segundo ele a igreja fornece gratuitamente 2 mil refeições diárias e ajuda desde crianças até idosos carentes. Foi interessante notar que o padre tinha um ponto de vista diferente do Minhoca: este chamava o bairro de Bixiga para apresentar um contraponto ao processo de embranquecimento, enquanto o religioso chamava de Boa Vista, que seria o nome oficial.

Então, fomos ao restaurante Rinconcito Peruano, onde comi um delicioso arroz com frutos do mar. O tamanho dos pratos foi surpreendente, tanto que muitos não conseguiram comer tudo.

Terminado o almoço, fomos de metrô ao Brás, um bairro na zona central que abriga várias populações imigrantes, sobretudo a partir do século XIX, devido a uma ferrovia que liga o porto de Santos e São Paulo. O mais interessante do bairro foi a presença de um forte comércio, desde roupas vendidas em atacados até produtos eletrônicos. Notei que diversas línguas são faladas na região, incluindo o espanhol e o mandarim. Após caminharmos pelas lotadas ruas, chegamos a uma mesquita. Nela falamos com dois homens, porém eles pouco responderam às nossas perguntas e, quando o faziam, nitidamente não era por boa vontade. Devido a isso, o Wilton decidiu encerrar essa visita um tanto desagradável.

mesquita.png

Nosso próximo destino foi o Centro de Referência e Defesa da Diversidade (CRD), localizado na República. Para chegarmos, pegamos o metrô e caminhamos. Foi durante a caminhada que o momento mais marcante do dia ocorreu: vimos um morador de rua, que carregava uma sacola cheia de latas, cair do nada na calçada e começar a ter algumas convulsões. Quase que imediatamente, diversas pessoas em um bar próximo rodearam o homem. Nosso guia, então,  orientou que atravessássemos a rua, sem olhar para a situação. Essa experiência foi marcante, pois com ela pude perceber o quão sortudos nós somos e quão impotentes somos diante de algumas situações.

Enfim, continuamos nosso percurso e chegamos ao CRD, que tem por objetivo atender à população LGBT e que foi criado em 2008 com parceria da União Europeia. Fomos bem recebidos por duas mulheres trans: a Sheila e a Thais. Essa visita foi muito esclarecedora, ao definir diversos conceitos como identidade de gênero, orientação sexual e sexo biológico. Além disso, com ela pude refletir a partir de alguns preconceitos que são disseminados em relação às mulheres trans: elas são comumente associadas ao crime, ao ilegal, ao marginal, ao exagero ou, até mesmo, à purpurina. Ao entrar no CRD, é possível facilmente perceber que essas características não condizem com a realidade.

Em seguida voltamos ao hotel, jantamos e fomos ao sarau. Particularmente, achei esse sarau, ainda que um tanto desconfortável (o ambiente estava quente e não havia muito espaço para se sentar), divertido.

-Rodrigo Nishikawa

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