Amor e Depressão

Romeu e Julieta. Quem nunca ouviu falar da famosa história shakespeariana de dois jovens que, por um amor impossível, tiraram suas vidas? Uma história do século XVI que ecoa e influencia a sociedade até hoje, seja em seu modo tradicional, seja em uma variação inesperada, tal como a famosa morte do cantor da banda punk inglesa Sex Pistols, Sid Vicious; seu bilhete suicida dizia “‘We had a death pact, and I have to keep my half of the bargain. Please bury me next to my baby in my leather jacket, jeans and motorcycle boots. Goodbye.’ Nós tínhamos um pacto de morte e eu tenho que cumprir minha parte do acordo. Por favor me enterre próximo de minha querida de jaqueta de couro, jeans e botas de motoqueiro. Adeus.”

Por que essas tragédias amorosas têm estado presente com tanta força em nossa sociedade desde tempos antigos? Poderia-se relacionar isso com o elevado número de suicídios?

Platão, em seu mito sobre almas gêmeas, diz que os seres humanos eram inicialmente compostos por 4 pernas, 4 braços, 1 enorme cabeça e um par de genitálias. Por serem poderosos demais e ameaçarem o domínio dos deuses no Olimpo, Zeus, o pai dos deuses, separou-os em dois. Essas duas metades nunca poderiam ser felizes e completas até que estivessem reunidas novamente. Essa seria, de acordo com esse mito, a origem das almas gêmeas e do amor. Portanto, Platão considerava que a miséria era o que estava destinado à todas as almas ainda não completas.

Será essa a origem da sensação depressiva que muitos têm de que, sem a pessoa amada, a vida não vale a pena e a morte é a melhor alternativa? Impossível dizer. Não se sabe se foram histórias como essa que condicionaram o ser humano a crer, com tanta fé, que o amor romântico é o necessário para felicidade ou se há, de fato, uma base biológica por trás disso.

Esse amor poderia ser explicado biologicamente pela liberação de endorfinas prazerosas ao encontro de uma pessoa querida. Isso, em conjunto com orgasmo, ápice do prazer sexual, poderia ser visto como uma vantagem evolutiva, pois motiva os seres humanos a terem sexo e, consequentemente, aumenta as chances de reprodução, dado que a perpetuação é o objetivo primordial de todas as espécies.

Uma pessoa com depressão crônica, isto é, uma falta de sensibilidade nos receptores de endorfinas, pode se tornar viciada em alguém com que ela tem uma relação amorosa, pois essa pessoa pode se tornar a única fonte de prazer dela e, sem isso, ela adentraria um cenário de profunda melancolia. Portanto, ela estaria fisicamente condicionada a buscar essa pessoa. Ou seja, esse aspecto biológico condiz, parcialmente, com a tese platônica; a principal diferença está no fato de que, biologicamente, a busca do amor é consequência de uma depressão e não a causa, como afirma Platão.

No entanto, isso está longe de uma explicação satisfatória dessa obsessão com o amor. Caso isso fosse suficiente, os golfinhos, mamíferos que também sentem prazer sexual, teriam uma compreensão desse sentimento similar a humana, o que não é confirmado. Logo, esse argumento poderia ser categorizado como uma influência, mas não como base de uma justificativa a essa questão.

Marie Lemonnier e Aude Lancelin caracterizam, no livro “Os filósofos e o amor”, o gozo como “esse esquecimento de si efêmero na lembrança permanente da incompletude que nos aflige.” Essa seria uma explicação platônica para a existência do orgasmo que contradiz a explicação biológica.

Sendo assim, a única resposta a essas perguntas é que só sabemos que nada sabemos, como diria Sócrates. Há inúmeras teorias e histórias que remetem a essa temática, mas não há nada que explique concretamente a percepção que temos do que nomeamos de amor, muito menos uma razão lógica para a influência que esse sentimento exerce sobre a vontade de viver.

-Flávia Vaz

 

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